Nossa compaixão para olhar cabelos brancos desconhecidos andando pela rua, com o charme de roupas sóbrias e pele enrugada e uma bengala, não é a mesma compaixão com que olhamos os nossos próprios cabelos brancos nascendo insistentemente e as vezes rapidamente nas regiões mais visíveis de nossa cabeça. Isso se tivermos a sorte de termos cabelos o suficiente para isso.
Terceirizamos e romantizamos a velhice de diversas maneiras. Quando os cabelos ficam grisalhos, imaginamos que a pessoa se redimiu de seus pecados, se é que tivera algum, pois a aura da avó, da nona, da batian, da oma ou seja lá de que imaginário temos, assume o estereótipo de algo que se imagina ser um velho. Mas não precisamos nos culpar por ter esse imaginário. E nem foi culpa da mídia. É falta de experiência mesmo. A gente não sabe como é uma sociedade inteira envelhecendo massivamente como está acontecendo. Nosso imaginário viu os vencedores de guerras chegarem resolutos ao envelhecimento sobrevivendo a tempos difíceis, as vezes sendo imigrantes por aqui, e vencendo lutas inimagináveis. Esses meus amigos que habitam nosso imaginário já devem ter mais de 80 anos.
Contudo velho, é aquele que tem mais de 60 anos, e esses nem sempre viram guerras, frequentemente estão ativos, e com certeza estão assustados de serem considerados velhos, pois provam insistentemente que sua vida continua plena, trabalhando, ou curtindo a aposentadoria, ou cuidando e babando nos netos. Bom, mais um estereótipo, pode ser. Mas o fato é que a expectativa de vida ao nascer tem aumentado muito. E nesse ano, nós mulheres brasileiras alcançamos todas juntas a incrível marca dos 80 anos de expectativa de vida ao nascer. Mas se pegarmos essa expectativa por regiões veremos claramente que ela se distribui toda errática pelo nosso país. Com toda a certeza fatores como educação, pobreza, saneamento básico são fundamentais para isso.
Também nos esquecemos de que o idoso nada mas é do que um indivíduo que comeu mais sacos de arroz na vida, e viu mais tragédias e mais belezas, e levantou mais vezes da cama do que os jovens. Se isso viram histórias boas ou não, só vai saber convivendo com um. E se isso aconteceu é mérito do tempo, genética, comportamento, escolhas, ambiente, dinheiro, amigos e governo; entre outras coisinhas mais.
E já que falamos em pecados, por que não falar um pouco mais deles. Não os 7 capitais, mas talvez aquela dúzia que a gente consegue cometer sorrateiramente em um mesmo dia. Dormir tarde demais por que não deu conta de dizer não para a série na Netflix, comer pudim de leite de sobremesa no almoço de semana, pular uns exercícios da academia, chamar o Uber ao invés de andar a distância de um misero quilometro, ficar tempo demais nas redes sociais. Isso tem a ver com você e eu hoje vendo cabelos brancos nascendo na nossa cabeça. Quando a gente junta uma quantidade menor desses pecadinhos, estamos fazendo nossos dias nessa terra mais prósperos. E a culpa que sentimos com quase tudo sabe disso.
Mas minha reflexão para você é, por que envelhecer só é bonito nos outros? Por que não pode ser bonito em nós mesmos? Biologicamente nosso auge acontece por volta dos 30 anos, e depois meu amigo, já começamos a envelhecer. E a gente não se dá conta disso, até que o cabelo branco avise. Nesse hiato que é somos jovens com os cabelos brancos nascendo, até nos tornamos os velhos que os outros vão olhar na rua de longe e achar uma graça nossa cabeça grisalha e a postura um pouco (eu disse um pouco) curvada, o que acontecerá conosco? Quem será você?
É nisso que tenho pensando e estudado, e como nossos pecadões e pecadinhos afetam nossa jornada biológica. Se tem uma coisa que tenho certeza, é a de que viver não é só sobre como funcionamos biologicamente. Mas por hora como médica é o que consigo enxergar. Mas prometo que tento enxergar por outros ângulos o fenômeno mais revolucionário do universo: a vida.
Te sugiro estar num gostoso envolvimento vivendo sua vida com positividade e propósito. Possivelmente vc estará a caminho do melhor envelhecimento que pode existir pra você. E quem sabe nesse meio do caminho você não se apaixona pelos seus próprios cabelos brancos.