
Quando falamos em envelhecimento, muitos dizem que querem viver enquanto estiverem lúcidos ou sem depender de outra pessoa para os seus cuidados. A verdade é que, no Brasil, não temos o poder de escolha sobre até quando viver. Temos, sim, poder sobre como nos cuidamos no presente, para evitar ou postergar ao máximo esse cenário que tanto nos aflige, mas isso é um capítulo à parte.
Essa semana, fiquei refletindo sobre isso. Avaliei um paciente após o relato da filha, que comentou sobre o aumento de suas dificuldades de memória, com ele se atrapalhando mais no dia a dia — o que, para muitos, já representaria o fim.
Mas será que é mesmo o fim? O que importa é que essa pessoa ainda viaja com a família, lembra de presentear a esposa, anda todo estiloso, sendo um verdadeiro senhor galã. Conta histórias engraçadas e deixa todos ao seu redor sorrindo.
É verdade que a memória recente dele já não se grava como antes, mas a sua presença constrói memórias que, com o cimento da emoção, são guardadas nas paredes das lembranças de todos que estão ao seu redor. E, enquanto essas pessoas estiverem vivas, a memória dele também viverá.
Sei que é mais fácil pensar assim nesse momento, em que ele ainda está independente e sofre pouco com os lapsos do seu dia a dia, mas ele me deixou uma mensagem: sempre viveremos no registro daqueles que nos querem bem.
Com carinho,
Mariana.